(Nilson Mariano - Zero Hora)
A empresa apontada como sendo a exportadora de 1.098 toneladas de lixo para os portos de Rio Grande e Santos (SP), a UTI World Wide, estabelecida na Inglaterra, disse ontem que desconhece o episódio. Os resíduos foram enviados em 64 contêineres, entre fevereiro e maio, como se fossem polímeros de etileno (aparas plásticas) para reciclagem.
Zero Hora entrevistou o diretor de cargas marítimas da UTI World Wide, David Hughes, do escritório central da empresa na Grã-Bretanha, com sede na cidade de Reading. Mostrando-se surpreso, Hughes disse que não lembrava de ter fechado negócio com a indústria gaúcha Alfatech, de Bento Gonçalves. Observou que teria de pesquisar na contabilidade da empresa, devido ao grande volume de transações pelo mundo. Mas assegurou que a UTI World Wide não embarca lixo doméstico.
– Nunca ouvi falar disso. É comum o transporte marítimo de metal, papel e plástico, mas não lixo doméstico – afirmou.
A UTI World Wide é uma empresa de logística, com escritórios em diversos países, inclusive no Brasil. Oferece serviços de importação, exportação e transporte de cargas, por via aérea, marítima e terrestre.
Procuradoria em Caxias também abre investigação
A Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul estão tentando desvendar o mistério, que poderia configurar fraude e crime ambiental. Pelos documentos de exportação, a Alfatech teria comprado 1.098 toneladas de aparas de plástico, para reciclá-las na fabricação de telhas, aglomerados, tubos e outros materiais. A operação foi viabilizada pela Stefenon Estratégias e Marketing, também de Bento Gonçalves.
Advogada da Alfatech e da Stefenon, Silvana Giacomini Werner assegura que suas clientes foram lesadas. As empresas informam que a carga de aparas de plástico foi comprada por R$ 200 mil, da UTI World Wide, da Inglaterra. A Polícia Federal (PF) de Rio Grande, que abriu inquérito na quarta-feira, confirma o nome da exportadora. No entanto, a empresa britânica nega que tenha remetido lixo – foi encontrado até tampa de banheiro químico – no lugar da mercadoria combinada.
Enviada em diferentes navios, a carga se dividiu. No porto de Santos, foram localizados 16 contêineres. Em Rio Grande, foram desembarcados 48. Ontem, em Caxias do Sul, a procuradora do Ministério Público Federal, Luciana Guarnieri, enviou documento à Câmara de Meio Ambiente da Procuradoria da República, em Brasília, solicitando apoio. Ofício semelhante já fora encaminhado pela procuradora federal de Rio Grande, Anelise Becker. A ideia é tentar que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil cobre providências do governo da Inglaterra.
A investigação criminal está a cargo do chefe da PF em Rio Grande, delegado João Manoel Vieira Filho, que pretende começar a ouvir os implicados na próxima semana. Um dos desafios é apurar se a Alfatech integra uma operação internacional para transformar o Estado em lixeira dos europeus.
– Este caso é inédito para a PF de Rio Grande – diz. |