(Vinicius Boreki - Gazeta do Povo)
Com a proibição aos grandes geradores de levar dejetos para a Caximba, outros locais passaram a receber esse material. Com isso, as reclamações da população se espalharam por outras regiões de Curitiba
Outras regiões começam a sentir as dificuldades enfrentadas pela comunidade da Caximba, vizinha do aterro que recebe o lixo de Curitiba e região metropolitana há 20 anos. Desde 15 de abril deste ano, data em que os grandes geradores (estabelecimentos que produzem mais de 600 litros de resíduos por semana) ficaram proibidos de levar os rejeitos ao aterro, foi necessário encontrar outros pontos com capacidade para absorver a produção de lixo. E a questão que se restringia à Caximba, no extremo sul da capital, estacionou no bairro São Miguel, no limite com Araucária.
Há poucas opções para os grandes geradores na região da capital. Um dos aterros licenciados ao lado da Caximba pertence à empresa Essencis – ligada ao grupo Cavo. De acordo com a prefeitura de Curitiba, entre 80% e 90% dos resíduos dos grandes geradores são levados, hoje, para a área da Essencis. Outras seis alternativas (em Araucária, Itaperuçu, Campo Largo, Mandirituba, São José dos Pinhais e Paranaguá) respondem pelos 10% a 20% restantes.
Licenciada há cerca de 16 anos, a propriedade da Essencis está próxima da represa do Passaúna, responsável pelo abastecimento de água de parte da capital e de Araucária, e à frente de uma estação de tratamento da Sanepar. A Essencis não informou a capacidade do aterro, mas aproximadamente 300 toneladas deixam de ser despejadas por dia no aterro da Caximba desde 15 de abril – o que equivaleria a algo entre 240 e 270 toneladas diárias destinadas ao espaço da empresa.
Mau cheiro
Os problemas típicos das proximidades de aterro incomodam parte da população do entorno, especialmente o forte odor de lixo nos dias quentes. “De uns três meses para cá, o cheiro ficou insuportável quando faz sol. Atrapalha demais a gente”, conta a dona de casa Simone Gandolfi. “No calor, é urubu por todos os lados e aquele cheiro que não tem controle”, acrescenta a vizinha e cunhada de Simone, Ivone Lourenço Gandolfi.
Outro problema é apontado pelos moradores. As ruas próximas não são asfaltadas e, em dias chuvosos, a terra vira barro, dificultando a subida dos caminhões que transportam resíduos. “Nos dias de chuva ou frio, que fede menos, os caminhões deixam cair parte do lixo. E o cheiro continua atrapalhando”, diz Ivone. Além do cheiro, a presença de animais indesejáveis (como urubus, aranhas e ratos) também é transtorno para a comunidade.
Fiscalização
Segundo a coordenadora de resíduos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Adriana de Fátima Ferreira, o lixo é uma dificuldade que se estende por todo o estado e, por esse motivo, necessita de ampla fiscalização. “Nossa ideia é montar operações específicas para os aterros sanitários, como blitz simultânea de fiscalização em todo o estado. É um problema não só de Curitiba”, diz. Para poder operar, qualquer aterro necessita de Estudo de Impacto Ambiental e, em seguida, caso seja aprovado, recebe três licenças: prévia, de instalação e de operação.
Risco de contaminação é baixo
O aterro da Essencis está localizado a cerca de 1,7 quilômetro da represa do Passaúna, responsável pelo abastecimento de água de parte de Curitiba e de Araucária. De acordo com o engenheiro agrônomo José Paulo Loureiro, presidente da ONG Atmosfera, apesar de próxima da represa, a área não está sobre a Bacia Hidrográfica do Passaúna. “Está na Bacia do Barigui, completamente contaminada por esgoto. Não se pode descartar os riscos de contaminação do lixo na represa, mas não tenho conhecimento de que isso aconteça”, diz.
Aterros sanitários causam, de uma forma ou outra, impacto ambiental. E, por esse motivo, é preferível que estejam distantes de rios, represas e semelhantes. “O escorrimento de chorume pode contaminar um rio. Fica mais difícil mensurar o problema enquanto o aterro está em atividade, mas o passivo ambiental sempre é terrível”, afirma.
Por se tratar de aterro industrial, são necessários cuidados com a mistura de substâncias. “Questionou-se, alguns anos atrás, duas explosões que ocorreram no aterro, devido aos gases e combustão de produtos químicos”, diz. Na época, funcionários da Sanepar observaram uma “nuvem negra” sobre o terreno onde se localiza o aterro. Sobre uma possível contaminação da represa, ninguém da Companhia quis se pronunciar.
Autorizado
Aterros industriais estão aptos a receber resíduos domésticos e orgânicos sem restrições. “Não há qualquer tipo de problema em receber o lixo dos grandes geradores”, diz Adriana de Fátima Ferreira, coordenadora de resíduos do Instituto Ambiental do Paraná. (VB)
|