(O Dia Online)
Categoria quer que governos municipais valorizem trabalho de catadores e sigam exemplo das prefeituras de Minas Gerais e de cidades do interior de São Paulo, que pagam pelo material
Rio - As recentes iniciativas do governo federal voltadas aos catadores de materiais recicláveis acontecem em momento sensível da categoria, que ainda não se recuperou dos efeitos da crise financeira internacional. Fortemente vinculada às preocupações com o meio ambiente, a atividade de coleta de material, de fato, requer políticas públicas mais eficazes, para não ficar à mercê do “mau humor” do mercado.
Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a crise afetou drasticamente o setor que, em todo o mundo, tem preços ditados pela Bolsa de Valores de Londres. Os preços das aparas de papel, sucata de ferro e plásticos daqui sofrem a influência dessa cotação internacional.
No Brasil, o valor do quilo de plástico caiu de R$ 1 para R$ 0,60, e o do plástico de garrafas pet, de R$ 1,20 a R$ 0,35. Os preços do quilo do jornal, dos papelões especiais e finos e dos papéis misturados e brancos também despencaram, afetando os rendimentos de quem trabalha na coleta e no beneficiamento.
Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), há muitas empresas fechando as portas, como as que trabalham no beneficiamento do material, e as demissões estão acontecendo. O MNCR calcula que 90% de todo o material reciclado no País são produto do trabalho de coleta de 800 mil catadores e catadoras. Esse grupo — definido como a ponta de uma cadeia produtiva chamada de “cadeia produtiva suja”, que é um sistema de produção sustentado pelo trabalho precarizado de catadores que exercem a atividade sem qualquer vínculo empregatício — foi o mais afetado. O que o movimento organizado pretende agora é conseguir que as prefeituras se comprometam a comprar o material, assim como já ocorre em cidades de Minas Gerais e Interior de São Paulo.
“Os catadores não podem pagar pela crise, como está acontecendo. Devem haver mecanismos de defesa do mercado da reciclagem, assim como acontece no setor agrícola. Do mesmo jeito que empresas recebem incentivos fiscais e econômicos dos governos federal, estadual e municipal, nós também queremos ajuda. Até porque são as cooperativas as verdadeiras geradoras de empregos”, defendeu Roberto Rocha, diretor do MNCR.
Hoje, os municípios pagam milhões por mês para que empresas enterrem o lixo. A reivindicação da categoria é para que esse valor seja pago aos catadores, por impedirem que resíduos sejam enterrados e poluam o meio ambiente. A atitude permitiria geração de renda, inclusão social e produção de matérias-primas limpas. |