(Gazeta do Povo - Pedro de Castro)
Presidente do órgão impõe condições para liberar área em Mandirituba, mas alternativa traria custos adicionais, segundo especialista
Depois de anunciar que não daria a licença ambiental para a construção de uma usina de compostagem de lixo na área preferida pelo consórcio que gerencia o lixo de Curitiba, o presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Victor Hugo Burko, admitiu a hipótese de permitir o uso de um terreno em Mandirituba. No entanto, ele impôs uma condição: o aterro sanitário que receberá os resíduos do processamento deve ser instalado em outro local – a opção seria uma área em Fazenda Rio Grande.
Mandirituba é o local preferido do Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos para a construção do Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos (Sipar), que inclui uma usina de processamento de lixo e um aterro sanitário. A instalação de aterros, no entanto, é vetada por uma lei municipal. “Mandirituba tem todas as condições para receber a usina, só que precisamos saber o que o consórcio vai fazer com o resíduo do processamento. A única área que pode abrigar um aterro sanitário para receber este resíduo é a de Fazenda Rio Grande”, argumenta Burko.
A professora de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ana Flávia Locatelli critica a proposta de Burko. Segundo ela, a divisão do Sipar entre dois municípios elevaria drasticamente o custo com transporte. “É uma ideia totalmente contraproducente. Dependendo da distância, gastaria-se o dobro de tempo e dinheiro. Com esse custo a mais, melhor fazer todo o sistema em Fazenda Rio Grande”, contrapõe, citando uma área que já teria sido liberada pelo IAP. No entanto, a instalação integral do sistema em Fazenda Rio Grande encontra resistência do consórcio, porque demandaria mais investimentos.
Prazos
O projeto do Sipar prevê que o lixo processado gere 8% de resíduos. Mesmo desta forma, não haveria tempo hábil para o sistema entrar em funcionamento antes do esgotamento do aterro da Caximba, em novembro. De acordo com o edital de licitação do Sipar, a empresa ganhadora tem quatro meses para iniciar a operação. Só que, antes disso, teria de conseguir mais um crivo do IAP, o que levaria mais 3 ou 4 meses. Isso acontece porque, segundo o presidente do IAP, o que o órgão analisou até agora foi a viabilidade das áreas, com base em pré-projetos. “Fica a cargo da empresa determinar em projeto qual tecnologia será empregada para atingir o resultado requisitado. Com base nisso é que se concede a licença para instalação”, esclarece.
Burko ainda propôs uma solução paliativa para o esgotamento da Caximba: uma célula sanitária na área de Fazenda Rio Grande. Trata-se de um aterro de pequena capacidade, com vida útil de 1 a 2 anos. A célula tem tratamento de chorume, sucção e queima de gases e recobrimento diário – serviços que, diz ele, não existem na Caximba. O presidente do IAP diz que a vantagem desta célula é a possibilidade de ser implantada em 40 dias, com tempo de análise pelo IAP de apenas 10 dias, já que se trata de um modelo pronto.
Ana Paula considera que usar células sanitárias é “empurrar o problema com a barriga”. “Essa proposta não difere muito do que já temos na Caximba. Seria apenas postergar a crise do lixo para mais adiante”, afirmou. O consórcio que gerencia o lixo em Curitiba e 18 municípios vizinhos informou, ontem, que não ia se manifestar sobre as declarações de Burko. |