(Folha de São Paulo - Eduardo Geraque e Ricardo Gallo)
Usado por 18 cidades, aterro da Cachimba está "tecnicamente saturado", diz Promotoria Justiça permitiu o uso do local até novembro deste ano; licitação para tentar resolver o problema do lixo na região foi suspensa
Curitiba, cidade ganhadora de prêmios internacionais de meio ambiente, não tem mais onde empilhar seu lixo. O único aterro da cidade, que atende ainda outros 17 municípios da região metropolitana, está "tecnicamente saturado", segundo o Ministério Público.
Projetado para durar 11 anos, o aterro da Cachimba existe há 20 e já foi ampliado duas vezes. A Justiça permitiu que ele continue funcionando até novembro. A partir de dezembro, a saída será o improviso.
Para as prefeituras da região metropolitana, resolver o problema do lixo requer a implantação de um sistema integrado de tratamento - que mescla o processamento do lixo e a reciclagem, levando apenas 15% dos resíduos sólidos para um aterro. "Nós queremos implantar um sistema pioneiro, o lixo seria quase todo processado e reciclado", diz Marilza Dias, secretária-executiva do grupo que reúne as prefeituras das cidades da região metropolitana do Paraná. Segundo a executiva, "Curitiba é uma vitrine", e precisa dar exemplo.
Mas a licitação que implantaria o sistema foi suspensa.
Após o governo declarar o consórcio Recipar como o vencedor da concessão de 20 anos e de valor aproximado de R$ 700 milhões, o grupo perdedor, o consórcio Paraná Ambiental, entrou na Justiça. A proposta derrotada era R$ 200 milhões mais barata e a Justiça quer saber se esse valor é exequível.
Outra ação, proposta pela Abrelpe (associação que reúne empresas de limpeza), conseguiu em primeira instância que a Justiça anulasse a licitação por problemas na elaboração do edital, que não previa a área de implementação do projeto.
Se a decisão for confirmada fará tudo voltar ao zero, o que vai esticar ainda mais as soluções provisórias para a questão do lixo curitibano.
Mas, de acordo com Dias, mesmo se a licitação terminasse hoje, as prefeituras ainda teriam que alugar aterros particulares para acomodar o lixo. "Teremos que partir para uma solução temporária, que pode ser usada por anos", afirma.
A falta de um novo local para acondicionar os resíduos sólidos de Curitiba e arredores é uma ameaça ambiental para toda a região metropolitana, diz o Ministério Público. Mesmo que a Cachimba seja desativada até o fim do ano, o risco de contaminação continuará por algumas décadas. |