(Gazeta do Povo - Vinicius Boreki)
Moradores encontram detritos sem cobertura no aterro, que teve sua operação encerrada em novembro pela prefeitura de Curitiba. Ratos e mosquitos voltaram à região
Três meses após seu encerramento, o Aterro da Caximba, que abrigou os resíduos de Curitiba e outros 18 municípios da região metropolitana por 21 anos, tem lixo exposto em um de seus maciços. Os moradores da região desconfiaram da falta de cobertura dos detritos por causa do retorno de ratos, urubus e mosquitos. Em um sobrevoo ao aterro nesta semana, a comunidade constatou a existência do lixo sem a cobertura, o que levou à volta dos animais vetores. A cobertura é uma das medidas fundamentais no plano de encerramento de um aterro sanitário, pois diminui a infiltração de água, evitando o aumento demasiado da produção de chorume.
Em nota enviada à Gazeta do Povo por e-mail, a prefeitura de Curitiba informou que a imagem mostra a execução das obras necessárias ao fechamento do espaço. “Enquanto são executadas estas obras, o lixo fica coberto por lona, para depois receber a cobertura definitiva, com terra”, explicou a nota, sem no entanto especificar por quanto tempo os detritos permanecerão nessa situação. Via de regra, as chuvas de verão dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro costumam dificultar a execução da cobertura, esclarece a professora do curso de Engenharia Ambiental da PUCPR Patrícia Sottoriva, doutora em gerenciamento de resíduos sólidos.
Conforme Patrícia, a comunidade da Caximba deve se acostumar ao retorno dos vetores nos próximos meses, pois o processo de encerramento de um aterro exige o remanejamento do lixo a fim de manter a estabilidade dos maciços. “Como não vai mais receber resíduos, há necessidade de verificar a estabilidade. Para isso, uma análise específica precisa ser feita”, diz. Com isso, outras situações vividas pelos moradores nas últimas décadas devem voltar ao dia a dia da comunidade. “A falta de cobertura aumenta a proliferação de vetores, que potencializam a ocorrência de doenças, além de gerar odor”, afirma Patrícia.
Saúde pública
O presidente da Associação para o Desenvolvimento Comunitário da Caximba (Adecom), Jadir Silva de Lima, promete entrar com representação no Ministério Público do Paraná (MP-PR) para avaliar o problema nos próximos dias. “Ainda que nem todos conheçam a situação, a comunidade fica revoltada porque o lixo está descoberto”, reclama o vizinho do aterro.
O coordenador das Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do MP-PR, o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato Santos, promete encaminhar o pedido da comunidade ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que deverá avaliar a situação. “A cobertura é obrigatória em qualquer condição: questão de saúde pública e sanitária”, alega. Na última fiscalização no aterro, o IAP não encontrou qualquer irregularidade.
O engenheiro civil Fernando Salino Cortes, especialista em engenharia sanitária e ambiental e mestre em saúde pública, diz que a última camada deve receber impermeabilização mais eficaz, com argila e manta protetora. “Se a água da chuva entrar na massa de lixo, vai gerar mais chorume. Por isso, deve ser escoada para o lado de fora do aterro”, afirma Cortes. Só a impermeabilização, contudo, não é suficiente para a manutenção do espaço. Um local como a Caximba exige ao menos 30 anos de monitoramento.
Créditos de carbono
A Caximba pode render lucros ao município em razão da geração de créditos de carbono. Os recursos, via de regra, são usados na manutenção do aterro e em benfeitorias para a região, uma das reivindicações da comunidade. No fechamento do aterro, em novembro do ano passado, a prefeitura confirmou a intenção de construir um parque no local, assim que houvesse comprovação de estabilidade. Os moradores, no entanto, solicitam um melhor acesso a serviços públicos, com a construção de mais unidades de saúde, creches e escolas. “Não recomendo a abertura ao público nos primeiros anos. É preciso haver uma monitoração mais severa”, afirma Cortes.
Segundo Patricia Sottoriva, não é possível instalar os equipamentos necessários à geração de energia através da queima do gás metano (produzido pelo lixo) na Caximba em razão de sua estrutura antiga. No entanto, é possível transformar o metano em gás carbônico, troca que diminui a poluição. “Hoje, queima-se em torno de 25% do gás. Com a instalação de mais sistemas de drenagem vertical [chaminés], é possível converter todo o metano em gás carbônico, fazendo parte do mercado de crédito de carbono”, afirma.
Dano ambiental
21 anos depois, antigo lixão ainda recebe obras O lixão da Lamenha Pequena, que operou entre 1964 e 1989, é uma mostra do tamanho do passivo ambiental deixado por um aterro sanitário. O local, onde Curitiba depositou seu lixo por 25 anos, recebe manutenções constantes da prefeitura. Em 2009, foi aberta licitação com valor máximo de R$ 423 mil para obras nos sistemas de drenagem das águas pluviais, dos acessos internos e do sistema de tratamento de efluentes, além da recuperação do sistema de monitoramento de água subterrânea. Mesmo 21 anos após o seu encerramento, o antigo aterro sanitário continua a gerar gás e chorume. Na época, a prefeitura explicou que o local precisa de vigilância permanente. “Na época da desativação, a primeira providência foi o selamento da área, com terra e plantio de vegetação e a drenagem, além da construção de duas lagoas de tratamento”, informa nota enviada pela prefeitura de Curitiba. Estima-se, ao todo, que a Lamenha Pequena tenha recebido aproximadamente 810 mil metros cúbicos de lixo. |