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20/03/2009 - Crise mundial reduz renda de catadores de materiais recicláveis do Rio pela metade

(Flávia Villela - Agência Brasil)

Rio de Janeiro - Os catadores de materiais recicláveis estão sofrendo duplamente com a crise financeira mundial: além da diminuição do crédito e da renda, que causou a queda no consumo e, conseqüentemente, na produção de lixo, o preço pago por alguns materiais recicláveis caiu mais da metade.

O catador Valdinei Ribeiro da Silva, da Cooperativa Coopervape, em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, afirma que está tendo que trabalhar mais de 12 horas por dia para ganhar metade do que ganhava antes da crise. “Antes de dezembro, eu conseguia ganhar até R$ 700, no final do mês. Hoje, se conseguir R$ 400 é muito”. Segundo ele, o quilo do plástico, que chegou a custar cerca de 90 centavos, agora vale menos de 60 centavos, pela mesma quantidade. A latinha, maior fonte de renda dos catadores, que chegava a ser vendida por R$ 3,50, agora não passa de R$ 1,50. O quilo do papelão hoje está sendo vendido por 20 centavos. Antes da crise um catador conseguia vendê-lo por 50 centavos.

“Minha esposa trabalhava comigo e saiu para trabalhar em casa de família, porque com o que estamos ganhando não está dando. A garrafa PET que vendíamos por R$ 1,20, o quilo, agora não conseguimos vender nem por 50 centavos". Silva conta que agora trabalha das 8h às 21h para tentar compensar as perdas.

Catador de material reciclável há dez anos, Agnaldo Moraes diz que nunca passou tanto sufoco. “O preço não está valendo a pena, porque o transporte é muito caro. Pago R$ 200 de frete por retirada”. Moraes espera que a prefeitura, por meio da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), intensifique o apoio às cooperativas de catadores. “Afinal, a coleta seletiva que realizamos desafoga os aterros sanitários e diminui o gasto da prefeitura, sem contar nossa contribuição para o meio-ambiente e a sociedade”.

Para Lúcio Andrade, morador da Ilha do Governador, a atuação dos catadores é fundamental para a cidade, já que não existe no Rio um sistema de coleta seletiva que viabilize uma cadeia produtiva da reciclagem e de gestão dos resíduos sólidos. “Como a Comlurb não faz coleta de lixo reciclável aqui na rua, entrei em contato com uma cooperativa, pois o lixo reciclável que acumulamos é muito grande”. Andrade diz que a idéia de organizar os vizinhos para separar o lixo orgânico dos recicláveis surgiu após uma viagem à Áustria “Lá a coleta seletiva é coisa séria e a cobrança é grande,” conta.

A Comlurb dá suporte a algumas cooperativas, como cessão do espaço de coleta, uniforme, luvas e máscaras. Além disso, a companhia realiza coletas seletivas em alguns bairros, cujo material é enviado para um depósito em Jacarepaguá, zona oeste da cidade. Os catadores que estiverem legalizados e cadastrados têm direito ao material, mas ficam responsáveis pelo transporte.

Desde 2006, todo o órgão federal é obrigado a doar o material reciclável a cooperativas cadastradas. Desde 2007, o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem um programa de crédito a fundo perdido, para infra-estrutura física, aquisição de máquinas e equipamentos, assistência técnica e capacitação gerencial de cooperativas de catadores. Ao todo, segundo o BNDES, o incentivo é de R$ 38,5 milhões e deve beneficiar 3,2 mil catadores de oito estados brasileiros.

Entretanto, para Sebastião Santos, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, faltam políticas públicas para esses trabalhadores por parte das três esferas do governo. Segundo ele, é fundamental também que haja recursos para investir em capital de giro para as cooperativas. “Se tivéssemos recursos para investir, conseguiríamos estocar o material e manter um valor mínimo para garantir um salário digno aos catadores, em momentos de crise. Hoje, somos forçados a vender o material pelo preço que derem”, afirma o catador.




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